Contrário à opinião geral, o erro em cálculo na estrutura não é o único fator determinante para a qualidade de um projeto. Pular etapas e desconsiderar requisitos básicos que antecedem o cálculo estrutural são os fatores mais perigosos – e que podem ruir sua carreira.
Por muitas vezes, errar cálculos que comprometem a segurança e a qualidade de uma estrutura aparece como principal medo de quem está iniciando a carreira como projetista. É inegável a importância de se ter atenção máxima nessa etapa do projeto. No entanto, devido a tecnologias cada vez mais eficientes presentes no mercado, como softwares que calculam os esforços e cargas de uma estrutura, os projetos manuais estão cada vez mais raros e os erros em cálculo estrutural são cada vez mais incomuns. Logicamente que um software jamais substituirá um profissional projetista, que analisa e define todos seus elementos e a qualidade do empreendimento, mas fazem muito bem seu papel de auxiliar nos cálculos.
Dessa forma, o que pode ser um diferencial para o projetista é ir além do cálculo estrutural, com muita cautela para não pular nenhuma etapa e atender todos os requisitos para desenvolvimento de um projeto de edificação. Falaremos agora de alguns itens que são essenciais para a qualidade da sua solução estrutural proposta para o contratante, mas que comumente são desvalorizadas.
1. Laudo de sondagem do terreno
A principal função da fundação é transferir as cargas da estrutura para o solo. Daí a importância do projeto de fundações em um projeto estrutural. Considerando isso, será que é importante saber quais as características do terreno em questão de resistência e deformabilidade? Será que essas características irão influenciar diretamente na sua solução estrutural proposta? Obviamente que sim. Saber se o solo é mais ou menos resistente, se é muito deformável, saber a permeabilidade, estabilidade, se há e onde está o lençol freático, enfim — uma série de informações que são a base para o projetista determinar qual tipo de fundação irá adotar e qual tipo de resistência que esse solo pode oferecer para realizar o dimensionamento da estrutura de fundação.
Não é comum que o contratante demonstrar relutância em investir em um laudo de sondagem do terreno.Por muitas vezes o projetista pode acatar e tentar realizar o projeto se baseando nas estruturas vizinhas ao empreendimento. Essa é uma excelente oportunidade para se diferenciar no mercado de projetos estruturais. Siga no caminho oposto e demonstre a importância desse laudo para o contratante. Mostre que, sem essas informações, fica impossível de se realizar os cálculo estrutural de fundações, afetando diretamente na qualidade da obra.
Lembre-se também que, mesmo que existam obras vizinhas ao terreno que será construído seu projeto e que não tenham apresentado problemas de estruturas, não é seguro que sua construção não apresentará problemas. Obras são sempre diferentes, em muitas vezes obras umas ao lado das outras possuem solos com características diferentes.
Portanto, reforce a importância de um laudo de sondagem do solo, mesmo que seja uma obra de pequeno porte. O solo é determinante para a qualidade da estrutura, e o investimento em um laudo não é um custo desnecessário e sim essencial. Garante a segurança da estrutura.
2. Análise das características das edificações vizinhas
Esse é um quesito que raramente é considerado em um projeto estrutural. Não é preciso dizer que a maioria das obras construídas em área urbana já tem ou terá uma obra vizinha. Em um projeto estrutural de qualidade, as informações dessas obras adjacentes são consideradas em sua concepção, principalmente quando a obra que você está projetando podem modificar o estado de equilíbrio das fundações das obras vizinhas. Esse desequilíbrio pode ser causado por escavações ou qualquer ação que possam provocar vibrações no solo.
A falta de análise das condições de projetos e construção das obras adjacentes podem provocar ações de responsabilidade civil ao projetista, além de colocar em risco a segurança das pessoas que executam a obra ou habitam a edificação vizinha.
Por isso, apesar de ser muitas vezes desprestigiada, é altamente recomendada a análise das obras vizinhas, principalmente quando:
- Houver escavação junto a divisa
- Execução de fundações que imponham vibrações ao terreno
- Adjacência a obras históricas
- Edificações com estrutura precária
- Houver possibilidade de existência de patologias já existentes.
Uma alternativa simples é solicitar ao contratante uma visita ao terreno em que será construído seu projeto. Isso certamente ajudará você a verificar as edificações vizinhas e é essencial para tomada de decisão se é necessário ou não um levantamento topográfico para construção naquele terreno. Outra dica valiosa é tirar ou solicitar fotos do terreno — isso certamente lhe auxiliará na concepção de seu projeto.
3. Planejamento previsto para execução da obra
Vamos refletir um pouco: para o contratante, será que faz diferença se a obra tem uma laje concretada a cada 7 dias ou a cada 28 dias? Parece óbvia a resposta. No entanto, um planejamento para execução da obra não é um elemento constante nos projetos estruturais.
Portanto, saber o ritmo de construção da obra é uma enorme diferencial em um projetista que via além do cálculo estrutural. Quando o projetista não conhece esse ritmo de execução, faz o projeto sem levar em conta essas informações e não tem como garantir que o projeto cumpra requisitos necessários durante a fase de execução, comprometendo a segurança e durabilidade da obra.
Mesmo que essas determinações estejam previstas na NBR 14931, raramente elas recebem o devido mérito. Para se diferenciar entre seus concorrentes, demonstre para seu contratante que você considera esse ritmo de construção, que entre outros benefícios, aumentará certamente a vida útil do empreendimento.
Fonte: maisengenharia.altoqi.com.br